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DEZ ANOS DEPOIS, O ATÉ BREVE.

Tiago Brandão, Baterista, conta como foi sua experiência acompanhando o Cordas do Iguaçu durante 10 anos.

Entrevista realizada por Everson Batista, 7 de junho de 2023. Último show de Tiago com o Cordas do Iguaçu.


Mateus Brandão, então na época guitarrista e arranjador do projeto Cordas do Iguaçu, atendeu a ligação do Zé Maria por telefone. Sem que eu soubesse desse contato prévio do Zé com Mateus, eu também liguei para ele.

Queria saber se ele tinha um baterista para indicar para o nosso primeiro show acompanhando um cantor, que soubesse ler partitura, compreender regência e tocar com volume equilibrado com a orquestra (tarefa difícil de ser executada para muitos bateristas).


Sem pensar duas vezes, ele indicou seu irmão, Tiago Brandão, experiente baterista, músico de palco e estúdio, produtor musical e baterista da banda Metralhas Beatles Again, na época. 


O show foi no Teatro Guaíra, dia 19 de dezembro de 2012, com o cantor Raimundo Fagner (um dos principais nomes da música brasileira). A tarefa de misturar banda com orquestra não é fácil, ainda mais quando a formação do conjunto é recente. Dificilmente rola a química perfeita no primeiro show. Mas, com os músicos experientes e de qualidade na orquestra (inclusive nosso Zé Maria na viola) e os músicos da banda que estavam acompanhando, essa tensão não aconteceu e o show foi um sucesso!


Depois desse, foram inúmeros outros shows que marcaram essa longa história de Tiago Brandão com a orquestra Cordas do Iguaçu. Foram 10 anos no comando das baquetas, representando com muita qualidade, carisma e excelência profissional. 



 

E para contar melhor como foi essa história, ninguém melhor do que o próprio Tiago Brandão para dar mais detalhes. Tive a oportunidade de entrevistá-lo em um bate papo informal, já que nos tornamos amigos ao longo desses anos. Vamos acompanhar como foi!


Everson: Fala meu amigo Tiago Brandão, o gêmeo mais famoso do Brasil (junto com seu irmão Mateus Brandão)! Brincadeiras a parte, pra quem não sabe, essa era a forma que eu apresentava os irmãos gêmeos nos shows… e ai, como estão as coisas? 


Tiago: Oi Everson! Em primeiro lugar, gostaria de agradecer pela entrevista. Estou bem, e você?


Everson: Tudo bem também! Bom, pra começo de conversa, foram 10 anos tocando com a gente no projeto Cordas do Iguaçu. Passamos por várias histórias bonitas e marcantes como equipe e eu gostaria de te fazer algumas perguntas para que a gente possa lembrar e compartilhar com todo mundo que acompanha o projeto. 


Tiago: Ok! Tanta coisa, vamos tentar lembrar…


Everson: Vamos lá então, primeira pergunta: Como foi que você se juntou ao projeto Cordas do Iguaçu e o que te motivou a permanecer por uma década? 


Tiago: Eu me juntei ao projeto por convite do meu irmão, Mateus Brandão, que já trabalhava com o Zé Maria, diretor do projeto, fazendo arranjos para a orquestra. O Zé, sempre buscando aprimorar o nível da orquestra, buscou inovar algumas coisas e comentou com meu irmão que gostaria de fazer um show da orquestra com um cantor de renome nacional e que houvesse uma banda acompanhando. Ele pediu a indicação de um baterista, já que o cantor em questão - Raimundo Fagner - traria o guitarrista dele. Talvez as novas gerações não saibam da importância do Fagner, mas ele é um cantor multipremiado, considerado um dos nomes mais importantes da música na América Latina. Gravou um material com Mercedes Sosa, tem mais de 35 discos lançados entre eles o Romance no Deserto com mais de 1 milhão de cópias vendidas, inclusive lançado nos Estados Unidos pela gravadora BMG Music.

Zé convidou meu irmão para tocar baixo elétrico e, meu irmão me indicou para a bateria. Disse que eu tinha todo "know how" necessário para o show: sabia controlar o volume da bateria, tocava lendo partitura, era músico de estúdio com a pulsação rítmica extremamente exata e, mais importante, sabia tocar acompanhando regência… mas que quando precisava tocar com pegada e improvisar, fazia isso muito bem também. Foi então que tudo começou. Meu irmão me convidou, depois o Zé Maria me ligou e eu nem pensei duas vezes, aceitei na hora. Lembro de ter pensado: “nossa, vou estrear no projeto já tocando com o Fagner!” Lembrei naquele momento, que meu avô era fã de Fagner e que ele ficaria feliz de saber que toquei com ele. Sobre a motivação de me manter por uma década no projeto, foram várias! Mas posso citar duas que sempre me fizeram querer estar no projeto: 


1. por se tratar de um projeto social, eu pude ver crianças que não tinham perspectiva de futuro profissional, nem mesmo de vida, crescerem no projeto fazendo aulas de instrumentos sinfônicos e se tornarem profissionais da música. Isso pra mim não tem preço! O projeto Cordas do Iguaçu mudou e ainda muda muitas vidas em Tunas do Paraná, Balsa Nova, Araucária e Curitiba e eu amo fazer parte de projetos como esse. 


2. Eu me sentia bem quisto por todos que passaram pelo ali, desde organizadores até os músicos. Percebi que eu também influenciava positivamente o ambiente e os membros do projeto e, estar num lugar com pessoas legais, amorosas e se sentir referência ao mesmo tempo para alguns, me fez sempre querer estar no projeto.

 

Everson: Bacana Tiago, legal saber disso! Vamos seguir então… Ao longo desses 10 anos, imagino que você teve várias experiências marcantes aqui. Qual foi o momento mais memorável para você como baterista do Cordas do Iguaçu? 


Tiago: eu poderia citar a minha estreia, o show do Fagner no Teatro Guaíra lotado (2500 pessoas) com gravação de DVD que foi distribuído no Brasil todo. Ali acho que foi o momento mais marcante, poderia dizer até da minha carreira como músico. Mas, como nosso coração nos surpreende de vez em quando, o momento mais marcante pra mim foi quando a orquestra foi tocar em Foz do Iguaçu, fazendo 2 shows com a temática “Clássicos do Rock”, um na Usina Hidrelétrica de Itaipu - pela sua importância de ser líder mundial na geração de energia elétrica limpa e renovável e que abastece o Brasil e Paraguai - e outro no Shopping Catuaí. A viagem em si foi super legal, e me lembro também que foi a primeira vez que fiquei 4 dias longe da minha filha Helena, que mal tinha completado um ano. Então foi um misto de sentimentos, viajar para longe da família para exercer sua profissão e, ao mesmo tempo, tocar na Itaipu. Mas não foi só isso… depois do primeiro show na Itaipu, a noite seguinte nos surpreendeu, pois não havia espaço vazio no shopping para nos ver! Havia fila de carros no lado de fora para poder ver nosso show! Como no projeto não tem vocalista (é só instrumental), toda a multidão virava vocalista da banda… e aquele som ensurdecedor das pessoas cantando, foi marcante demais!  



Everson: Eu me lembro muito bem dessa viagem para Foz do Iguaçu! Uma coisa que eu lembro é que a plateia ficou enlouquecida com os solos do nosso guitarrista Marcos Vizetti! Foi muito divertido mesmo! Mas vamos continuar com as perguntas:

Vocês tiveram a oportunidade de se apresentar ao lado de grandes nomes da música no projeto, como Raimundo Fagner. Como foi a experiência de compartilhar o palco com artistas tão renomados? 


Tiago: Olha Everson, acabei começando a responder essa questão anteriormente… então, como eu disse, meu avô gostava muito das músicas do Fagner. E quando soube que iria tocar com ele, meu coração acelerou! Lembro quando eu cheguei para a passagem de som/ensaio pré-show, já no Teatro Guaíra, ficava olhando o tempo todo para os lados, a fim de ver quando o Fagner chegaria… eu ficava pensando “como eu devo me comportar? Como deve ser tocar com alguém tão importante na música popular brasileira? E foi super tranquilo, ele é muito gente boa e, surpreendentemente, também estava nervoso, pois disse ali que era uma das primeiras vezes que ele tocava suas músicas com orquestra! Foi legal saber disso, pois aquele peso do nervosismo passou um pouco. 


Everson: Falando em Fagner, soube que você dirigiu uma gravação dele no seu estúdio em 2019, certo?

 

Tiago: Sim! Esse momento foi muito mais marcante pra mim, pois era só ele e eu no estúdio. Ele esperava sempre pelo meu feedback durante as gravações! Foi um dia sensacional! Depois disso, o Zeca Baleiro (cantor e compositor com mais de 30 álbuns gravados, participações com outros nomes importantes para a música brasileira) me ligou, dizendo que o Fagner gostou muito de gravar a música que eles haviam composto em parceria… Aliás, ele lembrou de mim nesse dia, que havia tocado com ele no projeto Cordas do Iguaçu. Foi memorável! 


Everson: Além de ser esse talentoso baterista que já conhecemos, você também desempenhou um papel crucial na mixagem dos DVDs, incluindo colaborações com artistas renomados como Ivan Lins e Alceu Valença. Como foi trabalhar nesses projetos e qual foi a maior lição que você tirou dessa experiência? 


Tiago: O Zé Maria estava procurando alguém pra mixar os DVDs do projeto. Após avaliar meu portfólio, ele me selecionou, e então fiz a mixagem desses dois DVDs, além de outros do Clássicos do Rock. Mas a minha maior lição ao mixar esses DVDs, principalmente o do Ivan Lins, é que músico bom já te entrega o som pronto. Além do Ivan Lins ser excelente compositor, ele nos seus mais de 70 anos (na época), cantava muito bem. E o time de músicos do Ivan era excepcional.

Fiquei feliz em comandar o processo de mixagem de um trabalho que foi lançado para o Brasil todo, com um dos músicos mais importantes da musica brasileira e mundialmente conhecido por sua composições, com prêmios internacionais e Grammys. Durante o processo de mixagem, obtive feedback do processo diretamente do Ivan Lins e ele gostou muito, me deixou a vontade e disse que confiava no meu trabalho.


Everson: Legal demais! E diga uma coisa… Teatro Guaíra e o Teatro Positivo são palcos prestigiados, e vocês tiveram apresentações para grandes plateias. Qual é a diferença de energia ao se apresentar para mais de 2500 pessoas em comparação com shows menores?


Tiago: Eu diria que não é melhor e nem pior, se era esse tipo de comparação que você estava esperando, no teatro é legal, pois gera aquela expectativa de tocar em um lugar onde vários artistas famosos já se apresentaram… As pessoas ficam mais comportadas, mas sempre conseguimos fazer com que elas se soltem, quando são convidadas a serem “vocalistas” do projeto… Já em shows menores, você consegue olhar diretamente pra cada pessoa, e observar com muito mais intensidade suas reações. Sinceramente? Dá mais nervoso e ansiedade tocar para uma plateia menor, do que tocar no Teatro Guaíra, por exemplo. Mas, gosto dos dois! 


Everson: Tiago, você e seu irmão Mateus Brandão, que é arranjador musical/baixista do projeto, têm uma dinâmica única como músicos. Como é trabalhar com seu irmão gêmeo na criação musical e como essa conexão influencia o som do Cordas do Iguaçu? 


Tiago: Ah, a gente se diverte! Eu cresci tocando com ele, então já meio que sabemos tudo o que um vai fazer… No projeto, eu gosto muito de tocar com todos os músicos que já passaram por lá. No Baixo, Mateus Brandão, Dunga e Leo Beltrão (hoje músico do Victor Kley, importante nome da música pop brasileira e internacional), Marcos Vizetti na guitarra, mas a química com meu irmão é diferente. A começar pelo fato de que somos gêmeos. Acho que nós dois deixamos o projeto Cordas do Iguaçu com uma veia Rock n Roll maior, já que em comparação com outros músicos que passaram pelo projeto, nós éramos quem mais ouviu rock durante nossas vidas. Então, achava uma combinação excelente para os shows “Clássicos do Rock”.



Everson: Ao longo desses 10 anos, como você vê a evolução do Cordas do Iguaçu como projeto musical? Houve mudanças significativas? 


Tiago: Acho que a maior evolução do Cordas do Iguaçu foi ter se tornado referência para crianças, adolescentes e jovens que buscam por ajuda, já que muitos deles que são atendidos pelo projeto, vivem em situação de vulnerabilidade social. O próprio Zé Maria, idealizador do projeto, foi beneficiado por projetos como esse e hoje é músico da Orquestra Sinfônica do Paraná. Por essa oportunidade que ele deu e dá a novos músicos, vejo que o projeto alcançou níveis mais altos, não só pela assistência social, mas também musicalmente, sendo procurado pelo mundo todo no Youtube… muitos comentários de gente dos Estados Unidos, Europa, elogiando a parte musical, os DVDs lançados por lá. Reflexo disso, os últimos shows nossos foram todos SOLD OUT no Teatro Guaíra. 


Everson: Com 5 DVDs gravados ao longo da carreira, cada um deve ter uma história especial por trás. Pode compartilhar conosco uma experiência única que ocorreu durante o processo de gravação de algum desses DVDs? 


Tiago: Acho que não teve uma diretamente comigo… mas a que eu sempre lembro rolou com o Marcos Vizetti, no show em Foz do Iguaçu, com o show “Cordas do Iguaçu”. O público estava louco com sua performance nos solos de guitarra e, de repente, uma corda arrebentou durante a execução de um solo. 


Everson: Tiago, vou terminar essa entrevista bacana com bons desejos para você e pro seu futuro… e deixo duas perguntas em uma: A despedida é sempre um momento delicado. O que motivou a decisão de se despedir do Cordas do Iguaçu e quais são seus planos e projetos futuros na música? 


Tiago: Eu quero estudar mais, me aperfeiçoar em tecnologias novas voltadas para o áudio como Dolby Atmos e uso de Inteligência Artificial na música. Junto a isso, tenho meu estúdio em Curitiba e sinto que é hora de dar uma atenção maior a essas atividades. Eu ainda pretendo viajar para alguns países, participar de seminários, workshops, visando aprimorar essas outras áreas citadas. Mas não é um fim de ciclo, é só uma pausa. Mas posso dizer que esses 10 anos com o projeto Cordas do Iguaçu, foram meus melhores anos como músico de palco profissional. Aprendi muito com cada um que estava lá e sentirei muitas saudades! 


Everson:  Nós também sentiremos muita falta sua aqui no projeto! Desejo a você todo sucesso do mundo e que tudo que você esteja planejando, se realize! Obrigado pelo bate papo!


 Tiago: Valeu Everson! Obrigado por compartilhar esses momentos com a galera! E obrigado por esses 10 anos de parceria e amizade. Abraço!     



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